Ao falar sobre a prática de colecionar, o bibliófilo brasileiro José Midlin, que quando vivo chegou a ser dono de um acervo de cerca de 45 mil livros, costumava definir o colecionismo como ou uma “consciência de raridade” ou “uma compulsão patológica”. Esse maniqueísmo bem-humorado resume os múltiplos lados de um tema complexo que tem, discretamente, alimentado acervos museológicos por todo o Brasil.
Colecionar, muitas vezes, é compreendido como uma prática solitária, mas seus resultados podem ter implicações sociais de dimensões muito maiores. A complexidade das coleções como legados da nossa cultura é um aspecto a ser considerado na compreensão desses espaços e suas potencialidades na educação, e na fruição da cultura da arte. Historicamente, os clubes de colecionadores e os leilões foram criados com o objetivo de incentivar o colecionismo e, através dele, fortalecer a produção artística brasileira.
O Leilão do Paraty em Foco, uma das atrações do Festival Internacional de Fotografia de Paraty, ganha destaque especial no seu décimo aniversário. Será realizado em São Paulo, numa ação conjunta entre a Bolsa de Arte e a organização do Festival. Contará com 160 lotes, com destaque para obras realizadas no século XIX, como as de Etienne Cajart, como também fotografias de artistas contemporâneos, como Miguel Rio Branco, Eustáquio Neves, Bruno Veiga, Tiago Santana, Alexandre Sequeira, João Castilho, Pedro David, entre outros, além de obras de Abelardo Morell, NanGoldin, Richard Avedon. Para quem quiser ampliar a sua coleção ou até mesmo dar os primeiros passos no mundo do colecionismo, os preços contemplam diversos padrões e variam de R$ 1.500,00 a R$ 300.000,00.
Isabel Amado, que coordenou durante 5 anos os leilões do Festival, conta um pouco do imenso trabalho por trás de um evento desta envergadura, principalmente como este, focado em estimular a participação de mais colecionadores e interessados em fotografia e arte em geral – ampliar o público consumidor e elevar os conceitos a fotografia dentro do mercado de arte – . Tudo isto sempre requer um minucioso trabalho de pesquisa para selecionar as obras, contemplando lotes de diferentes épocas, preços e estilos que deverão coabitar um mesmo espaço expositivo e um mesmo catálogo.
O ato de colecionar remonta à antiguidade e é universal, estando presente na grande maioria das culturas. Instaura um processo de relembrança, valorização do passado, mas de diálogo e conexão com o tempo presente e o futuro. O colecionador tem como direcionamentos, muitas vezes, saciar um vício interior, outras tantas, contribuir com um legado que possa refletir na promoção de conhecimento. Carioca, nascido em 1946, o colecionador de fotografia contemporânea e fotógrafo Joaquim Paiva começou sua coleção em 1978, com as fotografias de Diane Arbus. Para ele, a coleção precisa estar inseparavelmente aberta ao público. “Já deixei 2/3 de minha coleção para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ): 1.961 imagens feitas por 315 fotógrafos, dos quais 192 brasileiros e 123 estrangeiros, com obras desde a década de 1940 até a de 2010″, comenta. Em sua opinião, “os museus são depositários da memória artística de uma nação”. Ele cita a Coleção Pirelli/Masp, Instituto Moreira Salles, o MoMa, em Nova York, Museum of Fine Arts Houston, Bibliothèque Nationale e a Maison Européenne de La Photographie em Paris, entre outras. Outro apaixonado pela fotografia, o engenheiro Ricardo Brito prefere tê-las por perto, mantém todas as obras adquiridas dentro de sua própria casa. Para ele, o colecionismo é um ato de prazer que nasceu do seu gosto pelas artes e do hábito de visitar exposições, museus e galerias a passeio com a esposa.
O empresário Silvio Frota possui um acervo de cerca de 2000 fotos, desde a garota afegã, de Steve McCurry a Cindy Sherman. Com suas fotos, vai montar em Fortaleza o primeiro museu privado todo dedicado à fotografia, programado ainda para 2014. “A minha coleção já nasceu com um norte, que era a montagem de um museu ou espaço para que as pessoas tivessem acesso às obras”, afirma. Sobre o Leilão do Paraty em Foco, ele analisa: “não tem como citar uma obra específica, pois este é o melhor leilão que já vi. Não só no Paraty mas de todos os leilões que já vi no Brasil. A qualidade de obras fantásticas é um prato cheio para um colecionador”.
Foi tão potente este processo de formação de novos colecionadores que vale citar a curiosa primeira experiência do leilão. Conta Giancarlo Mecarelli, fundador do Festival, que na 1a edição, em 2005, o leilão contou com 12 fotografias e arrecadou os simbólicos R$ 3.500,00, nos quais os compradores eram os próprios fotógrafos autores das imagens. De lá para cá, a distancia é fenomenal. Na edição passada, 2013, a arrecadação chegou na casa dos R$150.000,00, deixando os organizadores com a sensação de missão cumprida. Segundo Iatã Cannabrava, coordenador de programação do Festival, este acontecimento levou a ideia de realizar esta edição comemorativa numa casa de leilão profissional, fechando com chave de ouro, provavelmente, no maior leilão de fotografia feito no Brasil.
O diretor da Bolsa de Arte no Rio de Janeiro, Jones Bergamin, também ressalta a importância desta união: “A Bolsa de Arte acredita que o papel da fotografia no Brasil e no mundo é tão relevante para a história da humanidade quanto a pintura ou a escultura. Vivemos uma revolução no mundo da fotografia, principalmente nos últimos 10 anos, um contexto em que todos fotografam tudo. Acreditamos que este leilão é uma grande homenagem a este universo que hoje é parte da vida de todos nós”, defende.
*Texto escrito para o catálogo do Leilão de Fotografia Paraty em Foco/ Bolsa de Arte 2014. Para acessar o catálogo clique AQUI.
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